USP Filarmônica: concerto em São Carlos promove interação entre solistas do exterior e jovens calouros no palco

Concerto da última terça-feira contou com participação de tenor e violinista russos de carreira reconhecida que se juntaram à orquestra universitária composta por alunos da USP Ribeirão Preto
Uma noite para transcender a rotina do dia a dia e apreciar a arte da música que nos rodeia. Foi com esse sentimento que a USP Filarmônica promoveu, na última terça-feira (29), um concerto gratuito no Teatro Municipal “Dr. Alderico Vieira Perdigão”, em São Carlos. O evento é uma realização do Departamento de Música da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP-USP), em parceria com o Grupo Coordenador de Cultura e Extensão da USP São Carlos e o Instituto de Química de São Carlos (IQSC).

Apresentação marca série de oito concertos previstos para ocorrer em São Carlos | Foto: Henrique Fontes/IQSC
O repertório contou com a participação dos solistas russos Mikhail Nor (tenor) e Petr Lundstrem (violino), ao lado do professor André Luis Giovanini Micheletti no violoncelo. A regência ficou a cargo de Rubens Russomanno Ricciardi, maestro e professor da FFCLRP-USP.
O concerto faz parte da série anual da USP Filarmônica, que promove acesso livre e gratuito à música, de concerto, da sinfônica, de câmara e a operística. A noite foi dedicada a compositores e poetas brasileiros e russos, com a Valsa da Suíte Popular, de Dmítri Chostakóvitch, a canção soviética Noites da Periferia de Moscou, de Soloviov-Sedoi, e a canção brasileira Peixes de Prata, de Gilberto Mendes.
Obras clássicas também estiveram no programa, como Árias de Händel e Bach, bem como a íntegra das célebres As Quatro Estações de Vivaldi. Referências mundiais em seus instrumentos, o tenor Mikhail Nor e o violinista Petr Lundstrem tiveram uma sintonia ímpar com Micheletti no violoncelo e foram acompanhados pela orquestra de bolsistas da USP Ribeirão Preto.

Mikhail Nor e Petr Lundstrem foram protagonistas de repertório desta 3ª no Teatro Municipal, em São Carlos | Foto: Henrique Fontes/IQSC
Os jovens que compõem a orquestra têm apreciado a oportunidade de atuar ao lado de referências internacionais na música. Caloura da FFCLRP no curso de Música com Habilitação em Flauta, Sofia de Castro já faz parte da USP Filarmônica e reconhece que foi um choque se ver em meio a profissionais prestigiados no mesmo palco. “É uma experiência enriquecedora poder se apresentar em lugares diferentes, em palcos diferentes, com repertórios distintos. Para mim, a música é uma forma de expressão universal que te leva a fazer magias”, destaca.
Já Matheus Andrade entrou na sua 5ª temporada como bolsista da USP Filarmônica e, no seu caso, foi a Percussão que o transportou para o contato com artistas de diferentes países do globo. “É sempre maravilhoso. A percussão me abriu a oportunidade de dar a volta pelo mundo, utilizando desde a castanhola (usada em músicas espanholas) até instrumentos da música brasileira, como o atabaque. Participar da USP Filarmônica me exige evoluir para manter a alta performance e ter essa experiência de atuar com os mais importantes solistas do mundo”, avalia o aluno de Bacharelado em Música com Habilitação em Percussão.

Sofia de Castro e Matheus Andrade atuaram pela USP Filarmônica ao lado de solistas de renome internacional | Foto: Henrique Fontes/IQSC
Para o estudante do 7º ano de graduação, a diversidade de sensações que a USP Filarmônica proporciona aos integrantes da orquestra, com direito a se apresentar muitas vezes com referências da música, é o que abre seus horizontes para uma futura carreira profissional. “São poucos os lugares em que você tem a oportunidade de ter esse contato variado com a música. A maioria das orquestras visa tocar aquele repertório mais europeizado, onde se destacam mais os instrumentos tradicionais, como tímpanos, bumbos sinfônicos, caixa e por aí vai. Com a variação da USP Filarmônica, você acaba tendo muitas oportunidades de agregar ao grupo com sua pesquisa e seu conhecimento”, opina Andrade.
Eduardo Bessa Azevedo, professor do IQSC e presidente da Comissão de Cultura e Extensão do Instituto, salienta a responsabilidade da Unidade em receber a série de concertos, proporcionando diversos ganhos para a sociedade, como a valorização e democratização do acesso à cultura e a formação de um público mais especializado.

Eduardo Bessa Azevedo (à direita), professor do IQSC, aprovou série da USP Filarmônica, que promove acesso livre e gratuito à música | Foto: Henrique Fontes/IQSC
“É uma oportunidade ímpar para termos contato com uma cultura mundial. Não podemos perder essa chance de transcender a nossa vida do nosso dia a dia, pois sempre estamos ocupados com casa com filhos e trabalho. São esses momentos em que conseguimos apreciar o mundo à nossa volta. Trata-se de um serviço que a universidade presta para a comunidade, devolvendo cultura e conhecimento para a sociedade, que tanto investe em nós”, explana o docente.
Diretor artístico da USP Filarmônica, o maestro Rubens Russomanno Ricciardi conta que a vinda dos convidados russos ocorreu graças à participação ativa preliminar no Fórum Civil do BRICS, espaço de encontro entre representantes da sociedade civil de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul para ampliar a participação de movimentos populares e organizações sociais na construção de políticas públicas.
“Houve uma aproximação com esses países, que permitiu esses convites a brilhantes solistas. Petr Lundstrem é um músico bastante consagrado na Rússia, tem tido uma participação importante nos projetos públicos da Rússia, e também há o Mikhail Nor, um tenor de destaque da nova geração. E o USP Filarmônica dá também a oportunidade para que jovens façam suas apresentações tocando, regendo ou sendo solista de uma orquestra pela primeira vez, ao lado de personalidades importantes da música”, destaca o professor da FFCLRP-USP.

Para o maestro Rubens Russomanno Ricciardi, USP Filarmônica se consolida como um grupo universitário genuíno, que vivencia um projeto que agrega ensino, pesquisa e extensão | Foto: Henrique Fontes/IQSC
Em sua visão, convites a solistas consagrados como Lundstrem e Nor e parcerias com países de ponta na arte da música só engrandecem a proposta da USP Filarmônica. “O filósofo alemão Immanuel Kant falava que ‘aprender é imitar’. Então, os estudantes observam e atuam junto de professores visitantes e referências em cada instrumento. Essa troca é muito importante para os alunos. E só de ver uma grande atuação os encoraja, isso é um incentivo. Então, esse contato com os grandes talentos da música é essencial para a formação dos nossos estudantes, pois ficam instigados e se sentem, inclusive, valorizados ao atuar junto desses valores internacionais”, opina Ricciardi.
Com 14 anos de história, a USP Filarmônica se consolida ainda mais como uma orquestra universitária genuína, formada por estudantes de graduação que vivenciam de maneira intensa e integrada os pilares do ensino, da pesquisa e da extensão. Ao mesmo tempo em que aprendem teoria musical e prática instrumental nas salas de aula, eles têm a oportunidade de aplicar seus conhecimentos no palco da própria orquestra, considerada o grande laboratório do Departamento de Música da USP, em Ribeirão Preto.
Para o maestro, esse processo proporciona uma formação visceral e completa, na qual o estudante não apenas assimila o conhecimento, mas também compartilha com a comunidade os resultados desse aprendizado. “O repertório da orquestra reflete essa diversidade e abrangência: transita entre o clássico e o experimental, entre o regional e o internacional, entre o antigo e o contemporâneo. E o trabalho desenvolvido pela USP Filarmônica é motivo de orgulho justamente por sua capacidade de gerar inovação. Nossas pesquisas viram papéis de música, em que os alunos performam. Essa integração perfeita entre ensino, pesquisa e extensão é o que nos deixa orgulhosos”, encerra Ricciardi.

A USP Filarmônica completa 14 anos de concertos e IQSC participa da realização das apresentações em 2025 | Foto: Henrique Fontes/IQSC
O repertório foi somente o 2º de uma série de oito concertos da USP Filarmônica programados para São Carlos ao longo do ano, além de 12 em Ribeirão Preto.
USP Filarmônica
Fundada em 2011, a USP Filarmônica é formada por estudantes de graduação em seus quadros de bolsistas, cumprindo as atividades de ensino, pesquisa e extensão da universidade pública e atuando com professores, funcionários, egressos e demais artistas convidados.
Rubens Russomanno Ricciardi (maestro principal) e José Gustavo Julião Camargo (maestro assistente) atuam na Direção Artística, buscando a inovação dos repertórios com reconstrução de memória e exercícios de contemporaneidade, em um contraponto entre antigo e novo, clássico e experimental, regional e cosmopolita.
Além dos clássicos, a USP Filarmônica se dedica à música brasileira de todos os tempos, em conjunto com as pesquisas do NAP-CIPEM do Departamento de Música da FFCLRP-USP. A orquestra se apresenta regularmente em suas sedes em Ribeirão Preto e São Carlos, sendo todos os concertos e recitais de óperas gratuitos e abertos ao público.
por Matheus Martins Fontes, da Fontes Comunicação Científica