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Destaque

O dia 19 de novembro é reconhecido pela ONU (Organização das Nações Unidas), desde 2003, como o Dia Mundial do Vaso Sanitário (conhecido internacionalmente como World Toilet Day). O objetivo é conscientizar a população e também os governos sobre a importância de se oferecer um sistema de saneamento básico adequado para toda a população, um problema que afeta bilhões de pessoas em todo o mundo.

Infelizmente, a situação do Brasil não é nada confortável. Tendo como base os dados do Sistema Nacional de Informação sobre Saneamento (SNIS), menos da metade do esgoto gerado é tratado. Ou seja, uma quantidade absurda de esgoto é lançada diretamente na natureza: aproximadamente 6 mil piscinas olímpicas de esgoto por dia entrando em contato direto com a natureza. Ações foram propostas no Plano Nacional de Saneamento Básico (PLANSAB), que prevê a garantia do acesso ao saneamento e à higiene adequados para toda a população brasileira até 2030.

A falta de saneamento básico traz péssimas consequências para todos nós. Eis algumas:

1) Doenças
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o principal objetivo do saneamento é a promoção da saúde do homem, visto que muitas doenças são transmitidas pela água de má qualidade. Entre as doenças mais comuns estão: esquistossomose, leptospirose, disenteria bacteriana, febre tifoide e cólera. Além do agravamento da mortalidade infantil e de idosos (aqueles com um sistema imune em construção ou comprometido), causa um aumento considerável de gastos do governo com tratamentos de saúde.

2) Contaminação
Os corpos d’água receptores desses esgotos ficam naturalmente contaminados. Além dos impactos ambientais negativos nos organismos aquáticos neles presentes, tal impacto se multiplica, dependendo do seu uso. Por exemplo, se essas águas são captadas para serem tratadas e distribuídas à população como água potável, a respectiva Estação de Tratamento de Água (ETA) terá mais dificuldade no seu processo; se o uso é na irrigação de lavouras, o grau de contaminação e o tipo de cultura podem até inviabilizar sua utilização.

3) Problemas escolares
A ausência de saneamento básico afeta o rendimento escolar e o aprendizado de crianças e adolescentes. Como as pessoas ficam doentes mais vezes, têm menor frequência às aulas e queda no rendimento escolar. De acordo com uma Tese defendida na USP , ao aumentar 1% do acesso da população ao saneamento: (a) reduz-se 0,12% na taxa de abandono escolar; (b) aumenta-se 0,11% na taxa de frequência escolar; e (c) diminui-se 0,31% na taxa de distorção idade-série.

4) Aumento da desigualdade social
Em geral, famílias de baixa renda sofrem mais com a falta de água, de esgoto tratado, de coleta de lixo, etc. Sendo assim elas têm mais chance de adoecerem e faltarem ao trabalho, impactando diretamente a renda mensal familiar.

Verifica-se, então, a necessidade premente de todos nós nos conscientizarmos, trabalharmos e cobrarmos que o PLANSAB seja cumprido. Mais ainda, lembremos que estamos comprometidos com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, especificamente nesse caso com o ODS 6 – “Assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todas e todos” e o ODS 11 – “Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis”. Destacam-se as metas 6.1 ? “Até 2030, alcançar o acesso universal e equitativo a água potável e segura para todos” e 6.2 ? “Até 2030, alcançar o acesso a saneamento e higiene adequados e equitativos para todos, e acabar com a defecação a céu aberto, com especial atenção para as necessidades das mulheres e meninas e daqueles em situação de vulnerabilidade”.

E nós, profissionais da Química, podemos e devemos dar uma contribuição substancial para que todas as metas propostas sejam cumpridas. Por meio do desenvolvimento de novas tecnologias, novos materiais, novas metodologias analíticas, ajudaremos a garantir processos de tratamento de água e esgoto mais eficientes, portanto de menor custo e capazes de produzir água de qualidade adequada para o descarte no meio ambiente.

Prof. Dr. Eduardo Bessa
Laboratório de Desenvolvimento de Tecnologias Ambientais

[1] SCRIPTORE, J. S. Impactos do saneamento sobre saúde e educação: uma análise espacial. 2016. Tese de Doutorado. Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, Universidade de São Paulo, 2017. DOI: 10.11606/T.12.2016. Disponível em: https://teses.usp.br/teses/disponiveis/12/12138/tde-02082016-165540/pt-br.php. Acesso em: 9 abr. 2021.

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Notícia cadastrada por Sandra Zambon