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Homenagem póstuma ao Prof. Ernesto Rafael González

Foto: Sandra Zambon (IQSC/USP)

Foi com profundo pesar que a comunidade eletroquímica nacional e internacional recebeu a notícia do falecimento do Prof. Ernesto Rafael González, ocorrido no dia 29 de maio de 2020, vítima de acidente vascular cerebral. O trabalho científico/acadêmico realizado pelo Professor González o coloca inquestionavelmente entre os mais notáveis profissionais da Eletroquímica no Brasil e no exterior, que tem exercido suas atividades na segunda metade do século XX e nas primeiras décadas do século XXI. Nascido em Buenos Aires, Argentina, o Professor González obteve o título de Licenciatura em Ciências Químicas em 1962 e o título de Doutorado em 1965, ambos pela Universidad de Buenos Aires. Entre 1968 e 1970 permaneceu como Professor da Escuela de Química na Universidade Central da Venezuela para, em seguida, desempenhar as funções de Research Assistant na Universidade de Newcastle upon Tyne na Inglaterra, entre 1970 e 1972.

A atuação profissional do Professor González no Brasil teve início na Universidade de São Paulo em 1972, quando veio para São Carlos como Professor Visitante do recém-criado Instituto de Física e Química de São Carlos. Na época, teve participação decisiva na implementação do curso de Pós-Graduação em Físico Química cujo início se deu em 1971 e também do curso de Graduação de Bacharelado em Química, que teve a primeira turma ingressante em 1973. Sua carreira acadêmica se desenvolveu rapidamente obtendo o título de Professor Livre-Docente em 1976 e o de Professor Titular em 1981.

Em 1973 deu início à implantação do Grupo de Eletroquímica do Departamento de Química e Física Molecular do IFQSC, o qual vem exercendo desde então um impacto ímpar na ciência do Brasil pela contribuição que deu ao estabelecimento e a consolidação da área de Eletroquímica no país. Iniciando seus trabalhos com pesquisa fundamental na área de adsorção de íons e moléculas em interfaces mercúrio/solução, o Professor González em pouco tempo diversificou seu campo de pesquisa, passando a atuar em áreas relacionadas à produção e utilização de hidrogênio, quando em 1977 iniciou projeto denominado “Eletroquímica da Geração de Hidrogênio”. Em pouco tempo os objetivos foram estendidos e um dos primeiros projetos brasileiros na área de células a combustível foi estabelecido no Brasil e que ganhou impacto tanto em nível nacional como internacional. Neste campo, merece destaque seu esforço pessoal na realização de empreitadas de internacionalização da pesquisa, hoje tão valorizadas. Foi com este espírito que em 1980 partiu para um estágio científico de um ano no Los Alamos National Laboratory, EUA, para realização de trabalho de cooperação na área de células a combustível com o Professor S. Srinivasan.

O Professor Ernesto González desempenhou ao longo de sua carreira um sem números de atividades de extensão universitária e serviço à comunidade que inclui como exemplos expressivos a presidência da Sociedade Iberoamericana de Eletroquímica e a atuação como editor de revistas científicas. Exerceu várias atividades de gestão acadêmica, muitas das quais foram decisivas no desenrolar da história deste Instituto. Foi membro de conselhos departamentais, membro da congregação da unidade, presidente de comissões regimentais, etc. Foi chefe de departamento e protagonista ativo na concepção e no estabelecimento do Departamento de Físico Química e do Instituto de Química de São Carlos, este criado por desmembramento do antigo Instituto de Física e Química de São Carlos. Neste sentido, ressalta-se o fato de que foi diretor pró-tempore do recém criado Instituto e logo em seguida eleito primeiro diretor deste mesmo Instituto. Sua atuação neste período foi decisiva porque coube a ele a árdua tarefa de construir o Instituto e assim estabelecer o embrião da atual infra-estrutura humana e física. A excelência de seu trabalho foi reconhecida pela Instituição, que em 2014 lhe outorgou o altamente honroso título de Professor Emérito.

O reconhecimento do trabalho científico realizado pelo Professor González tem se manifestado em diversas instâncias. Para citar as mais recentes, em primeiro lugar menciona-se a homenagem feita pelo seu grupo de pesquisa, que em 19 de Novembro de 2009, organizou simpósio internacional em sua homenagem, em reconhecimento pela sua contribuição ao desenvolvimento da eletroquímica na América Latina; em segundo lugar destaca-se a homenagem feita pela sociedade mexicana de Hidrogênio, que dedicou a décima quarta
edição de seu International Congress of the Mexican Hydrogen Society ocorrido em outubro de 2014 em homenagem ao Prof. Gonzalez. A abrangência e o impacto de seu trabalho científico foram apontadas recentemente pela agência Thomson/Reuters que em Agosto de 2014 identificou o Prof. González como um dos 3200 cientistas mundiais de maior impacto na ocasião, fato que teve alta repercussão no Brasil, por se tratar de um dos cinco pesquisadores radicados no Brasil constantes desta lista. É finalmente digno de muito destaque o fato de ser membro efetivo das Academia de Ciências do Estado de São Paulo e da Academia Brasileira de Ciências.

Em resumo, fica evidente o impacto que a sua pesquisa teve na eletroquímica do Brasil e do imenso poder disseminador que foi potencializado pelos colaboradores e pelos seus 70 alunos, orientados em programas de mestrado e doutorado e pesquisadores supervisionados em nível de pós-doutorado.

Alguns dos orientados do Prof. Dr. Ernesto Rafael González

Grupo de Eletroquímica, Instituto de Química de São Carlos – USP
Edson A. Ticianelli, Fabio H. B. de Lima, Germano Tremiliosi-Filho, Hamilton Varela, Joelma Perez

Notícia cadastrada por Sandra Zambon
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